Apoiar alguém que te é próximo e perdeu o seu bebé

1) Quando não sabes o que dizer

Diante uma perda, podes começar por dizer empaticamente:

• Lamento muito a tua/vossa perda.

• Eu não sei o que fazer ou dizer, mas estou aqui para ti/vocês.

• Deve estar a ser muito difícil. Lamento mesmo muito.

• Estou aqui se sentires que queres falar com alguém.

Deves sempre evitar dizer:

• Hás-de ter outro filho.

• Pelo menos ainda estavas de pouco tempo.

• Pelo menos já sabes que podes engravidar.

• Provavelmente foi o melhor para todos.

• Tudo acontece por um motivo.

• O tempo cura tudo.

Receber a notícia de que alguém do teu círculo perdeu o seu bebé pode ser difícil e colocar-te numa posição em que não sabes como lidar, o que dizer ou fazer.

Isto leva frequentemente ao afastamento e silêncio perante o sucedido.

Para te securizar, partilho contigo algumas ferramentas simples e sensíveis que podes ter presente enquanto prestas apoio a alguém diante a perda gestacional.

Não precisa de ser algo elaborado ou complicado. Precisa ser sincero, sentido e ajustado à realidade com que estejas a lidar.

Durante o processo, tem em conta também as tuas necessidades.
A solidariedade é fundamental.
O teu bem estar psicológico também 🤍

2) Uma criança nunca substitui o bebé que se perdeu

Mesmo que com a melhor das intenções, não fales das necessidades dos filhos mais velhos ou da chegada de eventuais futuros bebés, pois tudo o que aqueles pais querem, é o filho que se perdeu.

Honra a sua existência. Valida a perda, a dor, a saudade.

Trazer a memória do bebé que se perdeu para perto, não atrasa o luto. Pelo contrário, traz o reconhecimento da sua importância e lugar na família.

3) Não importa o tempo de gestação

Para muitas pessoas, mesmo numa fase precoce da gravidez, a perda significa a morte de um filho.

Não importa se é recente. Importa que esta Vida existiu.

Por outro lado se o casal estiver a lidar com relativa leveza, não densifiques a experiência. O luto é extremamente pessoal e tem muitas etapas. Acolhe o que é por agora, estando disponível e escutado.

4) Conversas sensíveis

Evita perguntas que obriguem os pais a percorrer e esmiuçar os acontecimentos dolorosos e potencialmente traumáticos.

Dá-lhes espaço para falarem se assim entenderem e se te sentires capaz de escutar.

Se for demais para ti, dá essa indicação de forma clara e compassiva e pergunta se podes ajudar a procurar apoio especializado.

Exemplo:

“Eu quero ajudar-te, mas este tema também me emociona/comove/entristece. Sinto que não tenho ferramentas para te apoiar como gostaria. Posso procurar/indicar-te associações/profissionais que talvez te possam ajudar?

6) Jamais comparar

Relatar histórias de outras perdas pode trazer um senso cruel de comparação:

• “O meu caso não é assim tão grave”

• “Há quem tenha passado por pior”

• “É frequente acontecer, devia estar preparada”

• “Eu perdi muito cedo, não é assim tão mau”

Se tiveres tu passado por uma perda, podes partilhar que também aconteceu contigo e aguardar se há interesse em que lhes fales sobre a tua experiência.

Ás vezes resulta para a mãe/casal saber que não estão sós na sua dor, escutando outras histórias de vida. Outras vezes soa a comparação.

Aguarda o sinal deles.

7) Apoia o pai

As atenções estão focadas na mãe, pois é no seu Corpo que tudo está a ter lugar, mas há um pai que também cabe apoiar na medida em que ele aceite/permita.

Podes ajudar por exemplo:

• perguntando de que precisa e dando espaço para o diálogo

• reforçando o quão querido e visto ele é por quem o rodeia

• entregando contactos que podem ser úteis, como apoio médico domiciliar, profissionais, associações, grupos de apoio ao luto

• ajudando com o que fica a seu cargo:

  • irmãos mais velhos

  • animais de estimação

  • cuidados com a casa

  • marcações de consultas

  • telefonemas

8) Novos bebés no círculo de pessoas próximas

A felicidade por uma nova gravidez não pode nem deve ser diminuída.

Porém é possível que ela venha activar pontos sensíveis nos casais enlutados mais próximos.

Se tens amigos que perderam o seu bebé, talvez possas falar com eles em privado antes de anunciar a tua gravidez em público, para que eles se possam preparar e integrar.

Tem presente que a reacção deles pode não ser de alegria e entusiasmo por ti. Não é mesmo por mal; é por dor.

5) Segue a linguagem dos pais

Se já tinha sido escolhido um nome para o bebé e tinhas conhecimento dele, dizer o seu nome traz reconhecimento a esta vida.

Se não havia nome ainda, por vezes os pais utilizam nomes carinhosos e tu podes segui-los.

Evita espontaneamente chamar feto ou embrião se os pais não o tiverem feito primeiro.

Deves sempre evitar dizer:

• Hás-de ter outro filho.

• Pelo menos ainda estavas de pouco tempo.

• Pelo menos já sabes que podes engravidar.

• Provavelmente foi o melhor para todos.

• Tudo acontece por um motivo.

• O tempo cura tudo.

Apesar de o bebé já não estar vivo, ele faz parte da família e dignificar a sua existência com carinho, apoia a elaboração do luto.